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Morreu nesta segunda-feira (8/5), aos 75 anos, Rita Lee, considerada a rainha do rock brasileiro por seu papel fundamental no gênero e uma das artistas mais versáteis da música brasileira.
A família divulgou a seguinte nota: “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem (segunda), cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”.
O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10/5), das 10h às 17h.
Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em maio de 2021.
Em abril do ano passado, um dos filhos da cantora, o guitarrista e produtor Beto Lee, anunciou que Rita estava curada do câncer de pulmão.
“A cura da minha mãe me emocionou pra c******. Melhor notícia de todos os tempos. Manteve a cabeça erguida, com vontade de lutar e encarou tudo com seu bom humor habitual, tanto que apelidou o tumor de “Jair”. That’s Rita”, disse ele em uma rede social.
Também se tornou uma das mulheres mais influentes do país, reconhecida por gerações de artistas por seu pioneirismo empunhando uma guitarra nos palcos, a irreverência que a levou à televisão, as opiniões fortes, a defesa da liberdade e dos animais.
Rita Lee Jones de Carvalho nasceu no último dia do ano de 1947 em São Paulo (SP). Mais nova das três filhas do dentista Charles Fenley Jones, paulista descendente de imigrantes norte-americanos confederados estabelecidos em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo , e de Romilda Padula, também paulista e filha de imigrantes italianos.
O “Lee” incluído no nome das filhas foi uma homenagem do pai ao general Robert E. Lee, do exército confederado americano.
Ela cresceu no bairro da Vila Mariana, onde teve aulas de piano e cedo foi influenciada pelo rock de Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones, mas também pela música brasileira que os pais escutavam em casa, com clássicos da MPB como Cauby Peixoto, Angela Maria, Maysa e João Gilberto.
Começou a compor as primeiras canções na adolescência e a integrar bandas com amigos.
Em 1963, formou com mais duas garotas as Teenage Singers, que faziam pequenos shows em festas colegiais. Com Os Seis, outra banda que integrou, gravou o primeiro compacto, com duas músicas. A saída de três componentes do sexteto acabou deixando o trio formado por Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, que rebatizam a banda como Os Bruxos. Por sugestão de Ronnie Von, o grupo passaria a se chamar Os Mutantes.
Em 1968, chegou a entrar no curso de Comunicação da USP, a Universidade de São Paulo, mas desistiu no ano seguinte. “Passei um ano bundando na USP (na mesma classe da Regina Duarte, a futura namoradinha do Brasil), na base do ‘assina a presença pra mim’”, contou em Rita Lee: Uma Autobiografia, lançado em 2016. Depois disso, resolveu abandonar o curso e se dedicar à música.
Com os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, Rita gravou alguns dos álbuns fundamentais do rock brasileiro, compondo e estrelando performances memoráveis, como em 1967, quando o grupo acompanhou Gilberto Gil no III Festival de Música Popular Brasileira, na Record, com a apresentação de Domingo no Parque.
Entre 1966 e 1972, período em que fez parte do trio, Os Mutantes gravaram apenas seis álbuns, que marcaram para sempre a história da música brasileira. O disco homônimo de 1968 já trazia hits como A Minha Menina, Balada do Louco e Ando Meio Desligado. No mesmo ano, a banda participou da gravação do clássico Tropicália ou Panis et Circenses, marco do movimento tropicalista, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé.
Rita logo formaria outra banda, a Tutti Frutti, com a qual gravou diversos discos de sucesso. Fruto Proibido, de 1975, consagrou a cantora com o título de rainha do rock brasileiro, com faixas como Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow e Ovelha Negra.
Mas foi com a entrada do músico Roberto de Carvalho na banda que Rita iniciou a parceria musical e amorosa que duraria a vida inteira.
Em 1976, já morando com Roberto e grávida do primeiro filho, foi detida pela ditadura militar por porte e uso de maconha, num ato do regime para “servir de exemplo à juventude” da época. Rita foi condenada a um ano de prisão domiciliar, e precisava de autorização de um juiz para sair e fazer shows.
Rita e Roberto tiveram três filhos: Beto Lee, em 1977, João, em 1979 e Antônio, em 1981.
O fim da prisão domiciliar e da Tutti Frutti, pouco depois, fizeram o casal dar início à parceria que consagrou a cantora como artista popular, emendando um sucesso após o outro, ao borrar de vez as fronteiras entre o rock e o pop.
São dessa época sucessos como Mania de Você, Chega Mais e Doce Vampiro. A dupla emplacou turnês de sucesso, temas de novelas e grandes shows, com o primeiro Rock in Rio, em 1985, e a abertura do primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, dez anos depois.
Ao mesmo tempo, Rita nunca deixou de flertar com outros gêneros. No início dos anos 1990, a roqueira que se definia como não radical, lançou a turnê Bossa’n’roll, em que se apresentava com voz e violão.
Com a carreira em ascensão, começaram a surgir episódios de internação por abuso de calmantes e álcool. Em 1986, a cantora sofreu uma queda da varanda do segundo andar de seu sítio, que a fez fraturar o maxilar e passar por uma cirurgia de reconstrução. Rita contou só ter conseguido se livrar das drogas e do álcool em 2006, após procurar ajuda numa clínica de reabilitação.
“Estou limpa há 11 anos, desde que minha neta nasceu. Canalizei minha energia e estou achando muito louco esse negócio de ser careta”, contou numa entrevista ao programa Conversa com Bial durante o lançamento da sua biografia, em 2017.
O humor ácido e o visual futurista fizeram Rita cair nas graças da televisão. A cantora participou de novelas da Globo como Top Model, Vamp, Celebridade e Ti Ti Ti quase sempre interpretando a si mesma. Também comandou programas como o TVLeeZão, na MTV e, ao lado de Roberto, o talk show Madame Lee, no canal pago GNT.
Entre 2002 e 2004, integrou o time de apresentadoras do Saia Justa, programa de debates do GNT, ao lado de Mônica Waldvogel, Marisa Orth e Fernanda Young.
Rita também é autora de sete histórias infantis, três delas protagonizadas pelo rato cientista Dr. Alex, que publica desde os anos 1980.
O lançamento de Rita Lee: Uma Autobiografia em 2016 revelou aos fãs passagens pouco conhecidas da trajetória da cantora e entrou na lista de mais vendidos do país. Em 2018, lançou o livro FavoRita, em que reúne registros fotográficos raros, além de lembranças e reflexões ao completar 70 anos.
A cantora anunciou sua aposentadoria dos palcos em 2012, devido à sua fragilidade física: “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, explicou no Twitter.
Sua última apresentação, no Festival de Verão de Sergipe, terminou em polêmica, após Rita se revoltar com uma ação policial que considerou agressiva com o público. Acusada de desacato à autoridade, foi encaminhada a uma delegacia após o show para prestar depoimento, e liberada em seguida.
Rita passou os últimos anos reclusa em um sítio na Grande São Paulo com o marido, Roberto. Em meio à pandemia de covid-19, em 2020, contou sobre a vida isolada em um texto para a revista Veja.
“Não vou morrer desse vírus vodu e peço ao Universo que minha morte seja rápida e indolor, de preferência dormindo e sonhando que estou com minha família numa praia do Caribe”, escreveu.